“Em todos os tempos, temos visto falsos
profetas pregarem em tom doutoral e com absoluta boa fé sobre o que pensavam
saber. Antigamente, inspirava-os a religião e, em sua crença de possuir a Verdade
graças à iluminação, vinham nos revelar aquilo em que deveríamos crer,
dando-nos precisas idéias a respeito da divindade, dos anjos e dos
demônios".
"Em nossos tempos, costumam dá-las os
Iniciados instruídos nos supremos mistérios que permanecem velados à penetração
da generalidade dos homens".
"A iniciação confere tal sorte de
pretexto a certos ensinamentos equívocos, mas nem sempre inofensivos,
sobretudo, quando a investigação de conhecimentos anormais conduz ao
desequilíbrio dos indivíduos. Em presença de tão grande número de elucubrações
malsãs, que preconizam o desenvolvimento de um estado alucinatório considerado
erroneamente como conquista de um privilégio iniciático, não será demais
formular os princípios da sã e verdadeira iniciação tradicional”. Oswald Wirth.
Oswald Wirth
Joseph Paul Oswald Wirth nasceu a 5 de agosto
de 1860, às 9 horas da manhã, em Brienz, pequeno burgo suíço de 2.500
habitantes às margens do lago de mesmo nome. De três irmãos, dois morreram
jovens, mas Elisa, nascida em 1875, foi a companheira de Oswald desde a
juventude até a morte. Wirth dizia tudo dever a Stanislas de Guaita, que
conheceu em 1887 e de quem foi secretário:
Estabelecer relações com Stanislas de Guaita
foi, para mim, um acontecimento capital.
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Stanilas Guaita |
Ele fez de mim seu amigo, seu secretário e seu
colaborador. Sua biblioteca ficou ao meu dispor e, beneficiando-me de sua
conversação, tive nele um professor de Qabbala e de alta metafísica, tanto
quanto de francês. Guaita deu-se ao trabalho de formar-me o estilo, de
desbastar-me literariamente. Devo a ele o fato de escrever legivelmente.
(Dedicatória aposta noTarot des imagiers du moyen âge).
Mesmo que pudéssemos facilmente nos convencer
do fato de Guaita haver ensinado a Oswald Wirth a arte de talhar felizmente as
frases, é inegável que o discípulo igualou, — se não ultrapassou mesmo, — o
mestre, ao menos no domínio do simbolismo, sobretudo na obra Le Tarot des
imagiers du moyen-âge (Tarô dos Imagineiros), onde retoma o estudo dos arcanos
maiores que ele havia desenhado para Guaita. Contudo, de modo geral, Wirth
sempre se mostrou bem mais interessado pela Franco-Maçonaria do que pela
Rosa-Cruz, ao contrário de seu mestre.
Espírito poderoso, Wirth é considerado um dos
mais completos teóricos do simbolismo que já existiram. Com Stanislas de
Guaita, analisou o magnetismo em “L’Impositiom des Mains” (A imposição das
mãos), o Tarô em “Le Tarot des Imagiers du Moyen Age” (O tarô no imaginário
medieval), a astrologia, o hermetismo, o ocultismo sob as suas diversas formas
em outras obras, assim como na longa série de seus estudos publicados na
revista “Le Symbolisme” (O Simbolismo) e estudou, com o mesmo espírito, o
esoterismo da “Serpente Verde” de Goethe e do mito babilônico de “Ishtar”.
É contudo sua obra maçônica que mais merece
admiração. Iniciado em 1892, reagiu desde a sua juventude contra o abandono
lamentável do simbolismo, – a despeito de uma tentativa sem futuro de um
precursor como Blatin, – pela Franco-Maçonaria francesa. A Loja “Trabalho e
Verdadeiros Amigos Fiéis” foi, a esse respeito, de acordo com suas próprias
palavras, “sua Loja de eleição” no seio da Grande Loja da França. Chegaria ao
33º Grau. Sua primeira obra, “Le Livre de L’Apprenti”, provocou escândalo e
atraiu-lhe a hostilidade rancorosa do Grande Colégio dos Ritos do Grande
Oriente de França que alertou as Lojas contra ele por meio de circular
confidencial.
Não foi por isso que deixou de publicar o
“Livre du Compagnon” e o “Livre du Maître”, depois o “L’Idéal Initiatic” e o
admirável “Mystères de L’Art Royal”. Em sua fonte, o pensamento wirthiano dá
continuidade ao hermetismo em sua pureza, e sua aplicação aos símbolos
maçônicos é, ao mesmo tempo, coerente de uma maneira que se poderia qualificar
de genial e feita de esoterismo profundo. Não deixou de ser objeto de uma grave
crítica, ao se recusar a explicitar a metafísica que este pensamento recobre.
Crítica fundamentada para o racionalista, mas que não compreende que a
característica própria do simbolismo é precisamente exprimir-se de uma forma
diferente do pensamento conceitual.
Deixado em sua ansiedade, o discípulo de Wirth
deve escolher entre recusar todo o wirthismo ou recusar o valor tradutor da
linguagem. Também, ao lado de admiradores sem reservas, Wirth encontrou
críticos que o condenaram por ter usado o caráter equívoco dos símbolos para
dissimular um pensamento mais profundo sobre o qual não se explica. Talvez seja
essa a razão por que a obra de Wirth não penetrou nas maçonarias
anglo-saxônicas, onde o seu nome é pouco conhecido. Foi, em todo o caso, o
motivo certo que provocou a hostilidade e, por vezes, a ironia densa da
maçonaria “livre-pensadora”.
Além disso, e a despeito de sua probidade
intelectual de autêntico erudito, Wirth não é um historiador, e essa é a parte
fraca de sua obra, a que mais envelheceu.
Finalmente, não é contestável que ele
interprete a mitologia da maneira mais subjetiva, sem levar em conta os dados
da arqueologia científica. O epíteto pejorativo de “profano” com que qualifica
em sua bibliografia do “Livre du Maître” o “Orpheus” de Reinach é, a esse respeito,
característico, e o fato de que esse livro assim qualificado esteja atualmente
há muito tempo “ultrapassado” é indiferente. Sejam quais forem as críticas,
Oswald Wirth é não somente um grande iniciado, mas também um grande escritor
francês, cuja linguagem clara e clássica lembra a de seu contemporâneo Anatole
France.
Seu “Franc-Maçonnerie Rendue Intelligible à
ses Adeptes” (A Franco-maçonaria Tornada Inteligível a seus Adeptos) (I. Livro
do Aprendiz. II. Livro do Companheiro. III. Livro do Mestre) foi reeditado em
1962-63 por “Le Symbolisme” com um excelente prefácio de Marius Lepage.
Tarot de Oswald Wirth
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O Louco |
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1- O Mago |
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2-A Sacerdotisa |
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3-A Imperatriz |
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4-O Imperador |
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5-O Hierofante |
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6-O Enamorado |
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7-O Carro |
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8-A Justiça |
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9-O Eremita |
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10-A Roda da Fortuna |
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11-A Força |
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12-O Pendurado |
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13-A Morte |
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14-A Temperança |
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15-O Diabo |
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16-A Torre |
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17-A Estrela |
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18-A Lua |
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19-O Sol |
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20-O Julgamento |
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21- O Mundo |
Oswald Wirth morreu a 9 de
março de 1943, às 11 horas, e foi sepultado em Monterre-sur-Blourde, ao sul de
Poitie...