A
aparência das coisas pode tornar-se um problema aos mais desavisados, preconceituosos ou ignorantes.
Uma antiga história conta: um diabo estava sentado à porta da casa de um sábio,
e um homem aproximou-se. O diabo tentou iludi-lo com mentiras e fantasias, mas
não conseguiu, pois ele já havia passado por tais experiências.
Entrando na
casa, o homem deparou-se com o sábio, sentado no chão e vestindo boas roupas, e
pensou: - "Esse homem é muito simples, pois senta-se no chão.
Jesus e o Universo
Não, esse
homem é orgulhoso, porque veste ricas roupas". Reparando mais no sábio,
continuou: "Sua aparência é nobre mas sua postura me desagrada. Na verdade,
esse não é o homem que procuro, ele não pode transmitir-me nada, nada..." O
homem se foi.
O sábio virou-se para a porta e gritou: - "Diabo, sua tentativa inicial não era necessária. Esse homem era um daqueles que procuram em vão.
Os sábios Alquimistas gritam, os Cabalistas gritam e os Verdadeiros Iniciados também, toda vez que alguém bate à porta da iniciação e quer entrar "cheio de si"...
Eles vão entrando e vão dizendo:
- "A
Alquimia é fazer ouro, é uma super-ciência que veio do céu. A Cabala é isso e
aquilo, etc..."
Se o alquimista não tiver barba branca, se o Cabalista não for judeu e o ocultista não tiver cara de bruxo medieval, dirão:
-
"Esse não é o homem que procuro".
Se entrarem em alguma Sociedade ou Ordem e ela não possuir vestimentas brilhantes, rituais suntuosos, palavras indecifráveis, dirão:
-
"Essa não é a Sociedade que procuro".
Foi assim, que muita gente desistiu e é assim que a Cabala se apresenta aos que a estudam pela primeira vez.
Se a Cabala é a tradição Iniciática Ocidental, a Tradição Oral que desde séculos passa de mestre para discípulo, por que nos é apresentada com uma roupagem hebraica enquadrada dentro de uma filosofia tempo, espaço e cultura?
Por que o hebraico?
Por que o mundo e os símbolos do antigo Israel continuam nela até hoje?
A Cabala faria como a Alquimia, que emprega toda uma simbologia particular para revelar seus ensinamentos, ou seriam seus gráficos e letras análogos às forças viventes do universo?
Imaginemos que diante de nossos olhos surgisse um antigo escrito hebraico.
É hebraico sem os pontos massoréticos, que tanto facilitam a sua leitura, sem vírgulas ou maiúsculas. Supondo que possamos ler este hebraico, uma interpretação seria uma aventura imprudente, pois, o que nós homens do século XX conhecemos realmente sobre a cultura, dia-a-dia, a vida dos homens que escreveram aquilo?
Um outro problema é que em hebraico existem palavras com dois ou mais sentidos; é o caso de "Ruach", nosso conhecido dos livros de Cabala. "Ruach" pode ser: sopro, vento ou alma.
Tentando decifrar o texto seguinte, no sentido bíblico (da Torá), como ele ficaria?
- "Deus pairou sobre as águas com seu "Ruach", e através dele, infundiu nela seu poder..."
O que fez Deus? Soprou as águas infundindo vida, fez um furacão e as águas se levantaram ou fecundou as águas com seu espírito?
Qual a interpretação desejada e qual a necessária a um estudante de Cabala?
Podemos considerar três interpretações: a Literal, a Simbólica e a Iniciática.
Na
Literal, devemos nos preocupar com o que está escrito: "Se Moisés falou
que devemos andar dez passos para o Oriente, andaremos dez passos e sempre
andaremos dez passos. Não discutiremos, a letra é a Lei e assim está
escrito..."
Na Simbólica, devemos nos preocupar com o que está "atrás" do que está escrito: "Moisés disse dez passos, ao Oriente". O que significa andar em direção ao Oriente, etc... O símbolo é o mais importante, ele dura ternamente. Sobrevive dentro de nós, guarda e vela seu significado.
Na Iniciática, preocupamo-nos com o que "não" está escrito: Através da letra, chegamos ao símbolo. Pelo símbolo adquirimos um conhecimento que podemos chamar de indireto e procuramos encontrar o coração de onde tudo emanou. A Fonte em que Moisés bebeu. Nos apropriamos disso de maneira direta e real Isso é chamado de: "Experiência".
Um corpo,
o sentido literal. Uma alma, sentido simbólico e um espírito, o sentido
iniciático. Nunca se deve tomar ao pé-da-letra um texto exotérico. O véu das
aparências revelam que a ilusão é a mãe dos que ousaram sem conhecer.
Para conhecer não é necessário só estudar, é famosa a história de um rabino que teria lido mais de quinhentas obras cabalísticas, uma das quais lhe teria sido entregue por um anjo e outra pelo profeta Elias, mas ao encontrar um homem que era conhecido como mestre, reconheceu que nada sabia. E o mestre, graças à humildade do discípulo, o levou ao que restava para seu aprendizado: a experiência, a vivência do que leu.
Quando as letras se tornam vivas, o Deus dos livros mostra-se face a face.
O Mestre
da história é a verdadeira Cabala, a Tradição Oral, muda aos que procuram em
vão, como aquele que saiu da casa do sábio, surda para os que falam o que não
conhecem e cega para os que enxergam só as aparências.
Texto extraido do site da Sociedade das Ciências Antigas.
Texto extraido do site da Sociedade das Ciências Antigas.