“Que
é que o homem pode pedir a Deus? Como e para qual objetivo deve ele dirigir sua
prece? Ele sofre, mas não conhece seus males; como há de conhecer suas
necessidades?
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Jesus Orante |
A única coisa que ele tem a fazer aqui em
baixo é gemer sem cessar, é manter-se humilde, pequeno e discreto, a fim de
que, no silêncio de si mesmo, o grande médico possa vir aconselhá-lo, fazê-lo
conhecer sua enfermidade e lhe prescrever um regime.
Só Deus é esclarecido quanto ao nosso
estado; todos os remédios que queremos tomar por nós mesmos pertencem à
categoria do empirismo e só produzem efeitos muito perniciosos.
Ó homem! Enxerga a tua miséria! Estás caído
no fundo de um precipício; estás machucado e quebrantado em todos os teus
membros e, não somente não podes curar a ti mesmo, mas não sabes nem de onde
nem quando virá o médico.
Em que condições podemos esperar estar ao
abrigo dos males e das tribulações na vida futura?
É quando estivermos acostumados a viver em
meio aos males e às tribulações da vida atual, como se não tivessem nenhum
valor e não existissem. Esta é a lei irrevogável que se reflete em nossa
infeliz posteridade. A tarefa é dura, mas seus frutos são doces; e quando
refletimos sobre as causas originais que fizeram incidir sobre nós tal decreto,
ficamos longe de nos espantar com o seu rigor.
Um dos grandes perigos do homem é o de se
crer abandonado quando está sofrendo.
Não esqueçamos jamais que se pretende aqui a
nossa purificação e não a nossa perdição. Nossas próprias culpas só devem
suscitar em nós o remorso e o sentimento de nossa profunda decadência, mas
nunca o desespero. A piedade suprema se interessa por nós em nossas dores; a
misericórdia, em nossas culpas e em nossos desregra¬mentos. É não conhecer a
Deus o acreditar que ele não nos possa regenerar quando nos voltarmos para ele
com o coração sinceramente contrito e humilhado.”
(Louis Claude de Saint Martin)