Silêncio |
Para o homem profano e inexperiente, o silêncio é uma
simples ausência de ruídos, sobretudo de ruído físicos.
E como o ego humano vive no ruído e do ruído, o silêncio
representa para o homem profano a morte.
O homem comum se afoga, literalmente, no oceano pacífico
do silêncio.
Ouve-se falar muito sobre o que Jesus disse e fez, mas não se fala
sobre o que não disse e não fez, por exemplo: sobre os dezoito anos de silêncio
em Nazaré e sobre os quarenta dias de silêncio no deserto.
Silêncio da Água |
Moisés e Elias passaram também quarenta dias de silêncio
na solidão com Deus.
Francisco de Assis passou meses inteiros de
silêncio nas alturas do Monte Alverne, depois do que apareceu o Cristo
crucificado e lhe imprimiu as suas chagas.
Paulo de Tarso, após a sua conversão em Damasco, retirou-se
para os desertos da Arábia, onde permaneceu três anos em silêncio com Deus.
Rabindranath Tagore e Mahatma Gandhi praticavam longos
períodos de silêncio.
Um dos maiores tesouros que o Cristianismo oficial perdeu,
nestes últimos séculos, foi, sem dúvida, o tesouro do silêncio dinâmico. E
talvez seja esta uma das principais razões de sua ineficiência na sociedade humana.
Silêncio é receita – ruído é despesa. E quem tem mais
despesas do que receitas abre falência. A razão deste horror ao silêncio é o
conceito radialmente falso sobre silêncio. A maioria entende por silêncio não
falar nem ouvir. Outros incluem no silêncio também
a ausência de ruído mental e emocional, nada pensar e nada desejar.
Na sociedade encontramos pouquíssimas pessoas que entendem
por silêncio uma grandiosa atitude de presença cósmica ou uma fascinante
plenitude univérsica.
Só pensam em silêncio como ausência e como
vacuidade.
Enquanto o homem viver na falsa concepção, que quase
todos nós aprendemos nos colégios e nas igrejas, de que meditação consiste em
analisar determinados textos sacros, estão todas as portas fechadas e
nunca aprenderemos a arte divina do silêncio
fecundo e enriquecedor.
Meditar não é pensar. Meditar é esvaziar-se
totalmente de qualquer conteúdo do ego e colocar-se, plenamente consciente,
como canal vazio, diante da plenitude da fonte, ou em linguagem da Sagrada
Escritura:
Sê quieto – e saberás que Eu Sou Deus.
Pode-se dizer que a Teoria da Relatividade é uma fuga
de todas as coisas relativas e um refúgio para dentro do absoluto.
Quem não vislumbrou, ou pelo menos farejou, o Absoluto,
o Uno, em longos e profundos mergulhos de silêncio, não sente a vacuidade dos
Relativos e o desejo do Absoluto.
Pela vacuidade do silêncio prolongado, a plenitude da
alma flui irresistivelmente para dentro da vacuidade do cosmos humano.
O silêncio é a linguagem do espírito – que é
interrompido pelo falar.
Humberto Rohden