SUA VISÃO 1:6
Dez Sefirot do
Nada
Sua visão é como
a “aparição do relâmpago”
Seu limite não
tem fim.
E Sua palavra
nelas está “correndo e retornando”.
Apressam-se
(precipitam-se) a Seu dito como um furacão
E diante de Seu
trono elas se prostam.
El |
A palavra “visão” é aqui Tsefiá, que geralmente denota uma visão
mística ou profética. Os Hechalot, um antigo texto místico que pode ser
contemporâneo do Sêfer Ietsirá, fala da visão (Tsefiá) da Mercabá. A Mercabá é a
carruagem Divina da visão de Ezequiel e a palavra é empregada para denotar a
experiência mística em seus mais altos níveis.
O Sefer Ietsirá descreve agora como as Sefirot aparecem na visão
mística. Em seções anteriores, o texto
falou dos exercícios usados para visualizar as Sefirot e agora descreve suas
aparições.
O Bahir, outro texto muito antigo, explica que apalavra Tsefiá,
derivada da raiz Tsafá, indica que alguém está olhando para baixo de uma grande
altura. Na seção anterior, o Sêfer Ietsirá falou das Sefirot como dez
“profundidades”. Quando se olha uma profundidade, geralmente está se olhando
para baixo. Nos Hechalot, freqüentemente se descreve a experiência mística como
uma descida, e é chamada “descida para Mercabá”.
Olhar para as Sefirot é chamado uma “descida”. A razão disso deve-se
ao fato de que, para consegui-lo, alguém deve primeiro alcançar uma consciência
tipo Chochmá, como discutido anteriormente.
No esquema das Sefirot, entretanto, Chochmá é a mais alta, ao menos as
que são acessíveis. Para subir a Árvore
dos 32 caminhos da Sabedoria alguém deve começar por ligar-se à Chochmá
(Sabedoria). Quando isso é conseguido, olha-se para baixo para as demais
Sefirot. Só então se começa a subir pelas Sefirot, iniciando pela mais baixa.
Como a aparição
do relâmpago
A expressão está no versículo “e as Chaiot, correndo e retornando,
como a aparição do relâmpago (Bazac)” (Ezequiel 1:14).
A palavra Bazac, que só aparece neste lugar na Bíblia, traduz-se
geralmente como “relâmpago” ou “centelha”. Segundo outras interpretações, Bazac
denota um meteoro lampejante ou uma bolha estourando. De acordo com todas essas
opiniões, o que o Sêfer Ietsirá está afirmando é que as Sefirot podem somente
ser visualizadas por um instante, e logo desaparecem.
O grande cabalista Rabino Moshe de Leon (1238-1305), conhecido
principalmente pela publicação do Zohar, oferece-nos uma analogia interessante.
Quando as Sefirot são contempladas em visão mística, sua aparência é como a luz
do sol refletida em uma parede de tigela de água.
Uma vez que a tigela esteja
completamente imóvel, a imagem refletida é clara, porém a mais ínfima vibração
a faz romper-se e oscilar abruptamente.
Similarmente, em teoria, é possível uma visão clara das Sefirot, mas
só se a mente estiver absolutamente tranqüila e calma. O mais tênue pensamento
exterior destrói a imagem completamente. Quando a mente se acha em um estado em
que pode visualizar as Sefirot, as mais insignificantes distrações a perturbam.
Seu limite não
tem fim
Obviamente deriva do versículo: “De cada limite vi o fim, Seu
mandamento é muito amplo” (Salmo 119:96).
A palavra hebraica usada aui para “limite” é Tachlit, que também
significa “conclusão” e “ultimato”. Ela é derivada da raiz Calá, que significa
“completar” ou “terminar”, como em “os céus e a terra se completam(Cala)”
(Genesis 2:1). Tachlit também denota propósito, pois quando algo cumpre seu
propósito, diz-se estar completo e terminado.
A expressão “seu limite não tem fim(Kets)” pode comparar-se à
expressão anterior “sua medida... não tem fim (Sof). Ambas as palavras, Kets e
Sof, denotam um final, mas com significado um tanto diferentes.
A palavra Sof deriva da raiz Safa que significa “deixar de existir”. A
palavra Kets, por outro lado, vem de Catsats, que significa “cortar”. Daí que o
fim indicado por Sof é onde alguma coisa deixa de existir, enquanto que Kets
indica o ponto onde a coisa é “cortada”, isto é, sua fronteira ou limite
extremo. Como explica uma autoridade, Sof é o fim em relação ao que segue a
este, e Kets é o fim com relação ao que precede a este.
Quando o Sêfer Ietsirá falou antes das Sefirot como extensões, o texto
dizia que não tem Sof. Isto indica que não há lugar onde elas cessem de existir
por mais longe que alguém vá. É uma
infinitude de extensão. Do mesmo modo, quando Deus é chamado Ên Sof,
literalmente “Sem Sof”, isto também significa que não há lugar onde Ele cesse
de existir.
Aqui, por outro lado, o Sêfer Ietsirá está falando das Sefirot tal
como aparecem na visão mística. O texto diz então que seu propósito, compleição
e resultado não têm limite (Kets). Embora as Sefirot sejam vistas só como um
flash, não há limite para a compreensão que elas podem impregnar no indivíduo.
Sua palavra nelas
está “correndo e retornando”
Isto também alude ao versículo: “E as Chaiot correndo e retornando
como a aparição do relâmpago” (Ezequiel 1:14). Isto será abordado novamente
mais tarde.
A expressão “Sua Palavra” é Devaro. Outros, entretanto, vocalizam
Dabru, que significa “eles falam”. A linha completa então se leria:- “Eles
falam delas como correndo e retornando”.
Isto nos ensina que não se pode focar nenhuma das Sefirot durante
qualquer período de tempo. A mente pode concentrar-se e vê-las como um
“relâmpado”, mas só por um instante. Logo terá que retornar. Oscila-se entre
“correr” e “retornar”, olhando de relance, por um instante, e logo voltando
imediatamente para seu próprio estado mental normal.
Os cabalistas fazem notar que “correr” denota Chochmá, enquanto que
“retornar” se refere à Biná.
Como foi discutido antes, só é possível visualizar as Sefirot com
consciência Chochmá, mediante a parte não-verbal da mente. Tal consciência
Chochmá é muito difícil de manter, pois a mente funciona normalmente em um
estado de consciência Biná verbal. Como foi explicado antes, o único modo de
conseguir uma consciência Chochmá é oscilar para frente e para trás entre
Chochmá e Biná. Só durante o instante de pura consciência Chochmá podem as
Sefirot se percebidas.
Geralmente, em hebraico, “correr” é Ruts. Aqui, entretanto, os
Midrash, a raiz está relacionada tanto com o Ruts, “correr”, como com o Ratsa
que significa “vontade” ou “desejo”. A palavra Rasta implicaria então “correr
com a própria vontade”, ou impelir a contade a concentrar-se em algo além de
sua compreensão. Isto indica o esforço
mental através do qual as Sefirot são visualizadas.
O Sêfer Ietsirá relaciona o “correr e retornar” com a fala. A fala
existe unicamente em relação à consciência Biná, pois ela é a parte verbal da
mente. Uma vez que uma pessoa está normalmente em um estado de consciência
Biná, ela pode somente visualizar as Sefirot como um flash, “correndo e
retornando”.
Elas
precipitam-se (apressam-se) a seu dito como um furacão.
O Sêfer Ietsirá diz que a “palavra de Deus nelas corre e retorna”. A
palavra de Deus pode visualizar-se através das Sefirot, mas “corre e retorna”.
“A palavra” (Davar) refere-se ao conceito geral, enquanto que um
“dito” (Maamar) denota um enunciado particular. Só com respeito à “palavra”
genérica é que as Sefirot oscilam, “correndo e retornando”. Quando há um
Maamar, um dito ou decreto específico, já não oscilam, mas sim precipitam-se
“como um furacão”.
Isto nos ensina que quando existe um decreto de Deus, o místico pode
ir muito além dos limites normais para persegui-lo. O fato dele estar indo
atrás de um “dito” Divino lhe permite ter acesso a estados de consciência muito
mais elevados que os que normalmente pode alcançar.
E é por esta razão que muitos místicos se empenhavam em meditações
relacionadas com a observância de diversos mandamentos. Faziam uso do decreto
“dito” de Deus e, desta forma, eram capazes de alcançar níveis muito mais altos
do normal. O “dito” Divino associado ao mandamento serviria também para atrair
as Sefirot e fazê-la mais acessíveis.
Há dois tipos de vento de tempestade: Seará e Sufá. Seará é um vento
que meramente agita (Saar), enquanto Sufá é um furacão que varre tudo o que há
em seu caminho.
No princípio de sua experiência mística, Ezequiel diz que viu um
“vento de tempestade (Seará) vindo do norte”(Ezequiel 1:4). Segundo alguns
comentários, isto se refere à agitação da mente quando se entra no domínio
transcendental.
O veículo mediante o qual alguém se eleva se entra no domínio místico
chama-se Mercabá (carruagem), e a arte de envolver-se nesta prática recebe o
nome de “trabalho da carruagem”(Maassê Mercabá). É pois altamente significativo
que a Escritura diga: “Sua carruagem (Mercabá) é como um furacão (Sufá)(Isaias
66:15). Isto indica que o vento Sufá age como uma carruagem, transformando-o a
um domínio místico. Esta é uma força que conduz alguém para além dos limites
(Sof) normais, para dentro do transcendente.
Saadia Gaon interpreta que Sufá denota as colunas de pó que se vêem
nos pequenos redemoinhos, onde o pó assume muitas formas e figuras. Estas
formas constantemente mudam, e uma forma distinta permanece somente por um
momento. De forma similar, quando alguém visualiza as Sefirot, pode vê-las de
muitas formas, mas, como as colunas de pó, duram só um instante e logo se
dissolvem.
Diante de Seu Trono
elas se prostram
Como foi comentado anteriormente, quando se fala de Deus como
“sentando”, significa que Ele está baixando Sua essência para relacionar-se
(por estar envolvido/interessado por) com sua Criação. Seu Trono é o objeto sobre
o qual Ele se senta e, portanto, denota o veículo de tal descida e
relacionamento (interesse/envolvimento).
Enquanto “sentar-se” é uma descida que se faz por iniciativa própria,
prostrar-se e inclinar-se é uma descida que se faz por causa de um poder
superior. Os instrumentos de relacionamento de Deus são as Sefirot, pois é
através delas que Ele dirige o Universo. Como resultado do conceito do Trono de
Deus, as Sefirot devem também fazer baixar sua essência e interagir com o mundo
inferior. O Sêfer Ietsirá diz, portanto: “diante de Seu trono elas se prostam”.
O Universo das Sefirot é chamado Atsilut. Abaixo deste está Beriá, o
mundo do Trono. Como Ezequiel o descreve:- “Por cima do firmamento que estava
sobre suas cabeças havia à semelhança de um Trono... e sobre a semelhança do
Trono se acha no universo de Beriá, e o “Homem” no Trono representa a disposição
antropomórfica das Sefirot em Atsilut.
O Universo mais alto que pode realmente ser visualizado é Ietsirá, o
mundo dos Anjos. Nele, alguém pode visualizar um reflexo do Trono, e foi ai que
Ezequiel disse ter visto “a semelhança de um Trono”.
Alguém também pode ver o “reflexo do reflexo” das Sefirot, e ele então
viu “a semelhança da aparência de um Homem”.
Quando o Sêfer Ietsirá diz que as Sefirot “prostram-se”, esatão indicando
que são refletidas nos universos inferiores. Posto que se prostram diante do Trono
de Deus que está em Beriá, elas são então visíveis em Ietsirá. E é no universo de
Ietsirá que o reflexo das Sefirot é visualizado.
Que a Eterna Luz da Sabedoria Cósmica nos Ilumine Sempre!